Estudo sueco publicado recentemente na Revista Câncer por Tabar e Cols (1) revelou que mulheres que realizam mamografia morrem menos do que àquelas que não fazem o exame rotineiramente. Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), Antonio Frasson, afirma que o estudo vem oferecer uma resposta confiável para esta importante pergunta: se uma mulher realizar mamografia regularmente, quanto esta escolha aumentará suas chances de evitar sua morte por câncer de mama em comparação com aquelas que não optaram por não realizar mamografia regularmente?
Segundo o estudo, nas mulheres diagnosticadas com câncer de mama e que realizavam a mamografia periodicamente, a redução da mortalidade por esta doença foi de 60% em 10 anos após o diagnóstico, se comparada àquelas que não realizaram o exame regularmente. O levantamento mostrou ainda que a redução da mortalidade por esta doença foi de 47% em 20 anos após o diagnóstico se comparada com aquelas que não realizaram o exame rotineiramente.
De acordo com Frasson, essa diferença é atribuída à detecção precoce e tratamento em uma fase inicial da história natural do câncer de mama entre as mulheres que realizavam mamografia regularmente. Apesar dos avanços no tratamento (radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia), as mulheres que participaram do rastreamento mamográfico tiveram a vantagem adicional da detecção precoce e receberam um beneficio muito maior com uma terapia menos agressiva e menos mutiladora do que as mulheres que não participaram. “Embora tenha sido dada muita atenção aos potenciais danos da participação de rastreamento mamográfico regular, pouca atenção foi dada aos danos de não participar do rastreamento regular”, afirma o mastologista.
Para ele, o maior dano é o aumento significativo do risco de morte por câncer de mama. Além disso, as mulheres que optarem por não participar do rastreamento terão uma taxa significativamente maior de câncer de mama avançado, com necessidade de cirurgias mais extensas, ocorrerão maior risco de linfedema, radioterapia e quimioterapia mais agressivas. “Estas mulheres experimentam efeitos físicos e cognitivos adversos significativos e duradouros”, diz o médico, acrescentando que para cada morte por câncer de mama evitada pelo rastreamento mamográfico, uma mulher será poupada dos estágios terminais da doença e ganhará uma média de 16,5 anos de vida.
Já Heverton Amorim, que é coordenador da Comissão de Imagem Mamária da SBM, afirma que não são poucos os estudos que reforçam a importância da mamografia para o diagnóstico precoce, muitas vezes questionada no Brasil. “Cada região tem a sua peculiaridade, mas é inegável que o rastreamento mamográfico de qualidade é determinante para o diagnóstico precoce e que as mulheres têm grande benefício com ele. Apesar do país ainda não contar com uma política mais severa para realizar o rastreamento, o mastologista tem um papel importantíssimo, pois realiza o rastreamento oportuno, podendo ainda individualizar o rastreio para suas pacientes. Aqui no Brasil contamos com um grande número de mastologistas que estão habilitados para realizar a leitura apropriada da mamografia”, ressalta ele, completando que a amostra do estudo é altamente relevante e por um período significativo.
Para Amorim, o estudo é mais uma comprovação quanto à eficácia do exame na luta pelo diagnóstico precoce que, consequentemente, aumenta a possibilidade de cura e diminui a mortalidade, associados aos avanços da terapia adjuvante na era moderna. “Acreditamos que é hora de focar a atenção na combinação de diagnóstico e terapia, em vez de vê-los como independentes ou pior como interesses concorrentes”, alerta.
Neste dia 5 de fevereiro, Dia da Mamografia, a Sociedade Brasileira de Mastologia preconiza a realização da mamografia anualmente para as mulheres a partir dos 40 anos. “Na realidade brasileira esse rastreamento é primordial”, diz o presidente Antonio Frasson, acrescentando que uma das bandeiras da entidade é apoiar a mulher no acesso à mamografia de qualidade, diagnóstico preciso e tratamento rápido.
O estudo
O estudo é apontado como de suma importância por incluir todas as mulheres com idade entre 40-69 anos em determinada região da Suécia, durante 39 anos do período de rastreamento (1977-2015). Além disso, também avaliou o período pré-rastreamento (1958-1976), permitindo comparações contemporâneas e históricas da taxa de morte por câncer de mama entre as mulheres na era pré-rastreamento e pós-rastreamento com mamografia totalizando 58 anos de avaliação.
Outro ponto crucial é o fato de a pesquisa usar uma nova metodologia para avaliar o impacto do rastreamento mamográfico, no qual foi calculada a incidência anual de câncer de mama fatal dentro de 10 anos e 20 anos, após o diagnóstico e comparando as mulheres que realizavam a mamografia regular com as que não realizavam. O estudo usou a incidência de câncer fatal com acompanhamento em longo prazo praticamente eliminando o viés de comprimento e reduzindo o viés de lead time.
Os resultados do estudo podem ser utilizados para a realidade brasileira.
Para saber mais consulte https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30411328.
- Cancer.2019 Feb 15;125(4):515-523. doi: 10.1002/cncr.31840. Epub 2018 Nov 8.
The incidence of fatal breast cancer measures the increased effectiveness of therapy in women participating in mammography screening.
Tabár L1, Dean PB2, Chen TH3, Yen AM4, Chen SL4, Fann JC5, Chiu SY6, Ku MM3, Wu WY7, Hsu CY3, Chen YC8, Beckmann K9, Smith RA10, Duffy SW11.
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