Atividade física regular tem efeitos positivos no câncer de mama

Para especialista da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), estudos realizados por importantes centros de referência nos Estados Unidos revelam resultados promissores associados ao estilo de vida das pacientes

Novo estudo publicado pela conceituada revista da Sociedade Americana de Oncologia Clínica destaca a importância da atividade física no prognóstico do câncer de mama. A pesquisa revela reduções significativas na taxa de mortalidade e na recorrência da doença em mulheres que mantiveram um estilo de vida saudável antes, durante e após o tratamento. “Os resultados são de fato surpreendentes e é possível afirmar que a prática regular de exercícios, dentro das recomendações estabelecidas, reverte-se em benefícios importantes para a saúde e o bem-estar das pacientes”, afirma o mastologista Silvio Bromberg, membro titular da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).

O estudo multicêntrico, publicado na Journal of Clinical Oncology e liderado pelo oncologista Davide Soldato envolveu 10.359 mulheres diagnosticadas com câncer de mama em estágio I a III. No acompanhamento por aproximadamente 6 anos, os pesquisadores constataram que a atividade física moderada entre 90 minutos a cerca de 5 horas por semana foi associada a uma redução no risco de recorrência da doença.

“Os dados indicam que a atividade física regular pode ter um efeito antitumoral significativo, especialmente em determinados subtipos”, afirma Bromberg. Em pacientes com câncer de mama triplo-negativo, agressivo e de rápida evolução, “a taxa de sobrevivência livre de recorrência a distância (DRFS)” foi de 86% para praticantes de exercícios semanais por menos 90 minutos e de 91,6% para as mulheres que se dedicaram a um período igual ou maior a 90 minutos por semana. “Em pacientes HER2-positivas, a DRFS foi de 90% em menos de 90 minutos, e 96% em mais de 90 minutos semanais”, destaca o mastologista.

Outro estudo, também recente, envolveu 1.340 mulheres com câncer de alto risco. Conduzido por pesquisadores do Roswell Park Comprehensive Cancer Center, que desde 1898 se dedica, especificamente, a pesquisar a doença, analisou a adesão das pacientes a recomendações de estilo de vida saudável, incluindo atividade física, consumo de frutas, vegetais, carne vermelha e embutidos, bebidas adoçadas, ingestão de álcool, tabagismo e índice de massa corporal.

Nas investigações lideradas pela epidemiologista Rikk Cannioto, os resultados foram surpreendentes. “Mulheres que mantiveram um alto índice de estilo de vida saudável antes, durante e até dois anos após o tratamento da doença apresentaram uma redução de 58% em mortalidade e 37% na recorrência do câncer de mama”, ressalta Bromberg.

De forma generalizada, o tempo de atividade física definida para mulheres com câncer de mama equivale a cerca de 75 minutos por semana. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda entre 150 e 300 minutos de exercício moderado ou 75 a 150 minutos para atividade intensa por semana.

“Os dois estudos reforçam a importância de um estilo de vida ativo para pacientes com câncer de mama, com destaque para a atividade física como uma ferramenta crucial na redução da mortalidade e recorrência da doença”, conclui o médico Silvio Bromberg, da Sociedade Brasileira de Mastologia.


Câncer de mama e a teledramaturgia

Ao longo dos anos, algumas obras dramatúrgicas, como séries e, essencialmente novelas em horário nobre, sendo estas principais produtos de exportação da televisão brasileira para o mundo inteiro, abordaram o tema do câncer de mama, através de personagens que não só emocionaram, mas se colocaram como um instrumento de serviço social ao alertar a população sobre a doença.

No entanto, é importante a cada nova abordagem, estarmos atentos às informações passadas para que não haja dúvidas ou distorções nas mensagens que podem (e devem) ser não só assimiladas pelo público, mas, efetivamente, servir de reflexão, alerta e orientação.

Na atual trama da novela das 21h, da Rede Globo de televisão, intitulada A Dona do Pedaço, mais uma vez o assunto vem à tona, através da personagem Gilda, interpretada pela atriz Heloísa Jorge. É inquestionável a importância e contribuição na disseminação da informação, porém a forma como inicialmente foi abordada poderia ser mais rica, o que ainda pode acontecer.

Ao descobrir a doença, a personagem se depara com a notícia de que o tumor é maligno e que precisará retirar a mama (mastectomia) para depois restaurá-la. Havia neste momento uma ótima oportunidade para chamar a atenção das mulheres para alguns pontos primordiais, tais como:

1. É preciso falar o nome em vez de utilizar a expressão “aquela doença”. O câncer de mama é uma das principais causas de morte da mulher brasileira, com mais de 13 mil mortes e 60 mil novos casos a cada ano. Precisamos mudar essa realidade e um dos primeiros passos é conscientizando a todos de que a doença existe, mas também existe diagnóstico precoce e muita chance de cura;

2. É importante a mulher conhecer o próprio corpo e o autoexame tem sua relevância, porém ele não substitui a consulta e o exame clínico por parte do mastologista, assim como a mamografia, exame que possibilita identificar lesões não palpáveis, com menos de 1cm. Reforçar que este é o profissional médico responsável pela saúde da mama também se faz necessário, pois ainda há desconhecimento dessa informação por boa parte da população;

3. Ao saber o diagnóstico, a personagem poderia ter recebido a orientação de procurar o MASTOLOGISTA, que avaliaria o tratamento ideal de acordo com o tipo de tumor, além da possibilidade de poupar a mama, tendo em vista os inúmeros estudos que comprovam tratamentos que minimizaram o número de mastectomia, ou seja, hoje se mutila bem menos as pacientes;

4. Reforçar a mensagem da importância do diagnóstico precoce, tendo em vista o alto número de pacientes diagnosticadas com o câncer de mama em estágio avançado, algo em torno de 40% no Brasil.

O alcance desses programas em todo o território nacional é inquestionável e o fato de quase 90% dos brasileiros se informar pela televisão sobre o que acontece no país, segundo dados da Pesquisa Brasileira de Mídia reforçam a possibilidade da teledramaturgia, efetivamente, prestar um serviço de utilidade pública. Para isso, é primordial contar com o apoio de especialistas para os mais variados assuntos.

A Sociedade Brasileira de Mastologia se coloca à disposição para colaborar, torcendo para que a atual trama tenha desdobramentos que possam informar ainda mais o público sobre o câncer de mama.


Anticoncepcional causa câncer de mama? Mito ou verdade?

Para a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), dados de publicações científicas devem ser cuidadosamente avaliados, assim como o histórico pessoal, os hábitos e os fatores de risco de cada mulher que faz uso de contraceptivos hormonais

Um estudo recente, publicado na revista PLOS Medicine, reacende as discussões sobre câncer de mama e uso de anticoncepcionais hormonais. No artigo, pesquisadores da Universidade de Oxford chegaram à conclusão que os riscos de desenvolver a doença, associados às pílulas com estrógeno e progesterona, ou somente com progesterona, são muito pequenos. “Uma pesquisa mais ampla, realizada anteriormente com um número muito superior de mulheres, compartilha a mesma conclusão”, observa o mastologista Guilherme Novita, diretor da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). Mesmo não trazendo novidades, o médico alerta que o estudo de Oxford chama a atenção para os índices apresentados pelos pesquisadores. “São números que vêm sendo amplamente divulgados, mas requerem uma análise aprofundada, justamente para não gerar desinformação e preocupações desnecessárias entre as mulheres que utilizam contraceptivos hormonais, que trazem mais benefícios do que prejuízos”, afirma.

O artigo publicado neste mês pela PLOS Medicine , do qual participaram cerca de 10 mil mulheres com idades inferiores a 50 anos, indica que as chances de desenvolvimento de câncer de mama pelo uso de anticoncepcionais hormonais aumentam em até 30%. Para o mastologista Guilherme Novita, da SBM, a grande discussão não diz respeito apenas aos números apresentados pelos pesquisadores de Oxford, mas à maneira como o estudo foi conduzido.

“Este estudo foi realizado a partir de um modelo que chamamos caso-controle”, diz. O médico explica que neste modelo os pesquisadores selecionam um número de pacientes com câncer e outro grupo que não tem a doença e perguntam a cada uma das mulheres se tomaram pílula no passado. “Se de dez pessoas com câncer de mama, nove tomaram anticoncepcional, e de dez mulheres sem câncer, só uma usou a pílula, o entendimento é de que o anticoncepcional está muito relacionado ao câncer de mama.”

O estudo caso-controle, segundo Novita, é bastante frágil e, em geral, não considera condições importantes, como hábitos, realidades socioeconômicas e o ambiente em que vivem os grupos pesquisados. “O nível de controle neste estudo é nível D de evidência, com muitos fatores que podem interferir no resultado”, ressalta.

A título de comparação, o mastologista lembra o estudo sobre a Covid-19 em Serrana, no interior paulista, realizado com 50% da população, recebendo vacina, e a outra metade, placebo. “Este estudo teve nível A de evidência, e a partir da porcentagem de cada grupo infectado pelo coronavírus, concluiu-se que a vacina funcionava”, sintetiza.

Outras constatações

O mastologista Guilherme Novita ressalta que o estudo recente de Oxford, indicando que os riscos de desenvolver câncer de mama pelo uso de anticoncepcionais hormonais são muito pequenos, entra para o rol das pesquisas que convergem para a mesma conclusão.

Em 2017, lembra o médico, um estudo publicado na New England Journal of Medicine, uma das mais prestigiadas publicações científicas do mundo, resultou do acompanhamento de 1,8 milhão de mulheres na Dinarmarca, na faixa etária entre 15 e 49 anos, por um período médio de dez anos. “As mulheres foram avaliadas prospectivamente, com uma população homogênea, confrontando quem usou anticoncepcionais e quem não usou”, destaca.

Nos resultados, quando comparadas com as que nunca usaram contraceptivos hormonais, as mulheres que faziam uso de anticoncepcionais tiveram um risco relativo de ter câncer de mama 9% superior a partir de um ano e 38% maior a partir de uma década de uso. Em síntese, o estudo demonstrou que para todas as participantes, a chance de ter câncer de mama até os 50 anos era de 2%. Para quem usou o medicamento por um ano, 2,2%, e para quem fez uso por mais de uma década, 2,76%.

“Tanto na pesquisa recente de Oxford quanto no estudo realizado em 2017, a constatação é de que os anticoncepcionais aumentam um pouquinho o risco de câncer de mama”, observa Novita. “Mas há outros fatores, além da pílula, que contribuem significativamente para ampliar as estatísticas da doença.” O médico destaca, por exemplo, maus hábitos alimentares, excesso de peso, sedentarismo, consumo diário de álcool em quantidades moderadas, uso de anabolizantes androgênios por mulheres, falta de gestação ou gravidez tardia.

“Em uma análise realista, o contraceptivo hormonal é muito benéfico, pois diminui a gravidez indesejada e as complicações de gestação em mulheres com menos de 25 anos no Brasil. A diminuição do risco de câncer de ovário também está relacionada ao uso de anticoncepcional”, enumera. O mastologista avalia, no entanto, que não se deve utilizar a pílula de forma indiscriminada. “A recomendação médica é sempre necessária”, diz.

Para pacientes com menos de 40 anos, salvo as que tenham risco muito elevado por histórico familiar ou por mutação genética, não há contraindicação para o uso de contraceptivos hormonais. “Evidentemente, como controle, a mamografia deve ser realizada todos os anos”, indica. Para mulheres com mais de 45 anos, quando o risco de câncer passa a ser mais significativo, a recomendação, segundo Novita, é para que se evite o uso sempre que possível, substituindo-os por anticoncepcionais não hormonais, como preservativos e DIU de cobre.

“Quando se analisam as estatísticas sobre o câncer de mama, os benefícios do uso dos anticoncepcionais hormonais entre a população mais jovem são infinitamente maiores que os prejuízos”, conclui Guilherme Novita.