Por que autoexame da mama mostrado no clipe de Anitta não é mais indicado
O novo álbum de Anitta, “Kisses”, foi lançado na sexta-feira (5) com direito a um clipe para cada música. Considerado o vídeo mais ‘empoderado’ do disco, o clipe de “Atención” mostra a cantora e diversas mulheres fazendo o autoexame da mama. Entretanto, apalpar os seios e a região da axila não é mais recomendado para detectar o câncer de mama há mais de uma década pelo Ministério da Saúde e o Inca (Instituto Nacional do Câncer).
“Apalpar os seios em casa é indicado apenas como uma forma da pessoa conhecer seu próprio corpo e procurar um especialista se encontrar algo diferente. Não é considerado um exame preventivo. Quando falamos em prevenção, devemos enfatizar os hábitos saudáveis [não fumar e beber], dieta equilibrada, prática regular de exercícios e controle de peso”, esclarece Paula Saab*, mastologista e membro da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).
Com o autoexame, geralmente a mulher não consegue identificar pequenos caroços (com cerca de 1 cm) ou que ainda estejam restritos ao ducto mamário –estrutura que carrega o leite durante a amamentação. Nesse estágio inicial, a chance de “cura” é aumentada em 95%.
Ao apalpar os seios a mulher só encontra tumores com mais de 2 cm, o que significa que o câncer já pode estar em um nível avançado. Por isso, a recomendação do Inca é que “a mulher continue apalpando os seios sempre que se sentir confortável para tal –seja no banho, seja no momento da troca de roupa, seja em outra situação do cotidiano”, sem se preocupar com técnica ou momento do mês específico. Além disso, nunca deixe de tomar outros cuidados preventivos e visitar o ginecologista regularmente –que pode fazer a apalpação adequada ou solicitar exames de imagem, quando necessário.
O autoexame pode desestimular outras avaliações
De acordo com o Inca, somente 35% das mulheres com câncer de mama identificaram o tumor com o autoexame. E o problema é que, ao fazer a apalpação e não encontrar nada, a pessoa pode acreditar que não tem problema algum e deixar de fazer avaliações de rotina que detectariam a doença precocemente.
Um estudo da SBM em parceria com a Rede Brasileira de Pesquisa em Mastologia revela que em 2017 era esperado que 11,5 milhões de mamografias fossem realizadas em mulheres com idade entre 50 e 69 anos atendidas pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mas apenas 2,7 milhões de exames foram feitos –uma cobertura de 24,1%, bem abaixo dos 70% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Enquanto no autoexame é difícil identificar um tumor em estágio inicial, na mamografia é possível encontrar esses pequenos nódulos irregulares e diminuir o número de mortes relacionadas ao problema”, acrescenta Solange Carvalho*, cirurgiã oncologista do departamento de mastologia do A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo.
Quando começar a fazer a mamografia?
De forma geral, a recomendação é que todas as mulheres visitem o ginecologista ao menos uma vez por ano. Além disso, quem possui baixo risco de desenvolver câncer de mama deve realizar a mamografia regularmente a partir dos 40 anos.
Já as que fazem parte do grupo de risco moderado ou elevado –devido a fatores genéticos, histórico de alterações benignas e hábitos como consumo excessivo de álcool, tabagismo e sedentarismo — devem iniciar a rotina de exames mais cedo, conforme orientação do especialista, segundo Alexandre Pupo Nogueira*, ginecologista e membro titular do núcleo de mastologia do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
E se eu achar algo com o autoexame? Apesar de com a apalpação geralmente só ser possível encontrar tumores em estágio um pouco avançado, se você identificar qualquer coisa diferente, mantenha a calma e busque ajuda médica. Saiba que alterações na mama não significam exatamente um câncer. “Podem ser apenas nódulos benignos que, claro, deverão ser acompanhados pelo médico da paciente”, finaliza Carvalho.
Fonte: Viva bem UOL
Autoexame da mama não substitui exame clínico, diz Ministério da Saúde
Não só a cantora Anitta, mas boa parte das mulheres brasileiras não sabe que o autoexame das mamas já deixou de ser indicado para identificar e prevenir o câncer de mama. No clipe da canção recém-lançada, “Atención”, de seu mais novo álbum, a artista pop e outras mulheres aparecem fazendo o autoexame, como um alerta. No entanto, segundo o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o método, que já foi bastante preconizado, ajuda a conhecer o próprio corpo, mas não substitui o exame clínico das mamas.
O presidente da SBM, Antônio Frasson, explica que o autoexame deixou de ser recomendado em países mais desenvolvidos há mais de dez anos por não ser capaz de descobrir tumores de até 1 centímetro. Ao se autoapalpar e não identificar nenhuma alteração, a preocupação é que mulheres deixem de procurar atendimento médico e de fazer exames de detecção. Falhas neste rastreamento e a lentidão entre a confirmação e o tratamento contribuem para a mortalidade.
“O autoexame não é capaz de identificar lesões pré-malignas, lesões muito pequenas, antes de se tornarem câncer, propriamente dito, ou seja, não consegue descobrir as lesões quando elas podem ser tratadas mais facilmente”, afirma Frasson. Segundo ele, o autoexame só é preconizado onde não existe mamografia ou outro método de diagnóstico. A Europa e Estados Unidos, por exemplo, cita, não recomendam mais o autoexame. Na Índia, onde não há mamografia acessível, o método ainda é utilizado, mas para evitar complicações do câncer de mama.
A SBM avalia que a falta de informação sobre o câncer de mama atrapalha o diagnóstico e o tratamento. Para atualizar a sociedade sobre a doença, a entidade faz uma pesquisa online. No questionário, os profissionais também querem saber se as mulheres confiam no autoexame como forma de prevenir a doença. Eles também querem identificar gargalos que atrasam o acesso aos mamógrafos e o tempo que a paciente pode ter de esperar entre a confirmação e o início do tratamento. Esse tempo, não pode passar de 60 dias por determinação legal.
“Temos alguns levantamentos brasileiros mostrando que no sistema público os tumores são diagnosticados de forma tardia e que, quando existe uma queixa, de nódulo na mama, ou existe queixa de alteração no seio, há uma demora no diagnóstico. As mulheres têm dificuldade de marcar mamografia, biópsia, agendar consulta com especialistas. Então, queremos entender, em diferentes regiões e perfis de pacientes, aprender, como agilizar as duas etapas”, explica o médico.
Com a pesquisa, a primeira da SBM que consulta diretamente as mulheres, há ainda perguntas acerca de sinais, sintomas, fatores de risco e eficiência de campanhas. Para responder, é preciso ser mulher, ter mais de 18 anos e cerca de dez minutos disponíveis. O resultado deve ser anunciado até o fim deste mês. O questionário está no link: https://lnkd.in/d343z9W.
O Ministério da Saúde e o Instituto Nacional de Câncer (INCA) confirmam a orientação da SBM sobre o autoexame. Orientam a mulher a apalpar as mamas sempre que se sentir confortável, a qualquer tempo, sem nenhuma recomendação técnica específica ou periódica. Os dados oficiais mostram que é mais comum mulheres identificarem caroços no seio casualmente (no banho ou na troca de roupa) do que no autoexame mensal. A mudança, de acordo com o ministério, surgiu do fato de que, na prática, muitas mulheres descobriram a doença a partir de uma observação casual e não por meio de uma prática sistemática de se autoexaminar.
Outra recomendação é que mesmo sem sintomas, mulheres a partir dos 40 anos façam anualmente o exame clínico das mamas e aquelas entre 50 e 69 anos, no caso de baixo risco, se submetam a mamografia, pelo menos, a cada dois anos. Esta periodicidade leva em conta benefícios e riscos da mamografia, que é um raio-X capaz de identificar tumores pequenos. Já mulheres consideradas de alto risco devem procurar acompanhamento individualizado. Este grupo inclui aquelas com história familiar de câncer de mama em parente de primeiro grau antes dos 50 anos.
O câncer de mama é o tipo de câncer mais frequente na mulher brasileira, com alta letalidade. Nesta doença, ocorre um desenvolvimento irregular das mamas, que se multiplicam até formar um tumor maligno. Os médicos não identificaram as causas precisas da doença, mas alertam para o crescente número de mulheres abaixo de 40 anos em tratamento.
Hábitos saudáveis e uma rotina de exercícios são as principais recomendações para evitar qualquer tipo de câncer. O tratamento pode variar entre cirurgia e quimioterapia.