Parecer sobre Dispositivos de Atividade Térmica da Mama

Dispositivos que mensuram a atividade térmica da mama, baseados em diferentes tecnologias, têm sido propostos para detecção do câncer. Um desses dispositivos é a termografia baseada na radiação infravermelha emitida pelo corpo 1,2,3. De acordo com parecer prévio, a Comissão Nacional de Mamografia do Colégio Brasileiro de Radiologia, da Sociedade Brasileira de Mastologia e da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia não recomendam o rastreamento do câncer de mama com a termografia, seja isoladamente, seja em conjunto com a mamografia. Adicionalmente, declarou que em face das evidências disponíveis atualmente, o uso da termografia como método de rastreamento e diagnóstico deve ser restrito ao ambiente de pesquisa.

Recentemente, um novo dispositivo de rastreamento térmico mamário foi proposto no Brasil. Esse dispositivo de atividade térmica mamária difere da termografia infravermelha. Ele é baseado em nano-sensores que são ativados pela temperatura corporal. O fabricante dessa nova tecnologia, assim como, seus divulgadores declaram que ela não é uma substituta da mamografia no rastreamento do câncer, mas um método adjunto ao exame físico.

Inovações são positivas e devem ser estimuladas. No entanto, a Comissão Nacional de Mamografia não identificou, nos depositários de artigos científicos, ensaios clínicos que permitam estabelecer a efetividade e o impacto clínico adicional dessa nova tecnologia no moderno rastreamento do câncer de mama.

Um dos maiores riscos dos dispositivos de atividade térmica ocorre em mulheres que optam por esse método em vez da mamografia. Outra preocupação é seu uso associado com a mamografia, em substituição à ultrassonografia ou à ressonância magnética em mulheres com alto risco para câncer de mama ou mamas densas. Em ambas as situações, as mulheres podem perder a chance de detectar o câncer de mama em seu estágio inicial.

Nenhum dispositivo que avalia atividade térmica mamária demonstrou até o momento benefício adicional no rastreamento e diagnóstico do câncer de mama. Dessa forma, no presente momento, eles não devem ser utilizados para:

  • Selecionar mulheres para o rastreamento do câncer de mama
  • Substituir a mamografia no rastreamento do câncer de mama.
  • Substituir o rastreamento suplementar à mamografia com a ultrassonografia ou ressonância magnética quando indicado como por ex. em mulheres de alto risco
  • Substituir avaliação clínico – radiológica em mulheres sintomáticas
  • Definir a realização de biópsias mamárias, em geral, e de lesões classificadas na categoria 4 ou 5 do ACR BI-RADS, em particular

Sendo assim a Comissão Nacional de Mamografia (CBR/FEBRASGO/SBM) recomenda em face das evidências disponíveis:

  • Contra o rastreamento do câncer de mama com quaisquer dispositivos de atividade térmica, seja isoladamente, seja em conjunto com a mamografia (recomendação contrária forte: os possíveis danos provavelmente superam os possíveis benefícios)
  • Que o uso de dispositivos de atividade térmica como método de rastreamento e diagnóstico deve ser restrito ao ambiente de pesquisa.

Esse parecer se estende a todos os dispositivos de avaliação térmica da mama, incluindo a termografia infravermelha e outras tecnologias, até que evidências científicas sólidas justifiquem seu uso

Referências:
Aayesha Hakim, R N Awale: Thermal Imaging – An Emerging Modality for Breast Cancer Detection: A Comprehensive Review. J Med Syst. 2020 Jul 1;44(8):136.

Ramesh Omranipour, Ali Kazemian, Sadaf Alipour, Masoume Najafi, Mansour Alidoosti, Mitra Navid, Afsaneh Alikhassi, Nasrin Ahmadinejad, Khojasteh Bagheri, Shahrzad Izadi: Comparison of the Accuracy of Thermography and Mammography in the Detection of Breast Cancer. Breast Care 2016;11:260–264

Deepika Singh, Ashutosh Kumar Singh: Role of image thermography in early breast cancer detection- Past, present and future. Comput Methods Programs Biomed. 2020 Jan;183:105074.

Atenciosamente,
Comissão Nacional de Mamografia


Mamografia: entidades e ministério divergem sobre idade mínima para exame de rotina; veja como funciona

Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA sugeriu que paciente com risco médio para câncer de mama faça mamografias regulares a partir dos 40 anos, e não mais dos 50. No Brasil, orientação é para quem tem entre 50 e 69 anos, mas entidades médicas discordam dessa recomendação.

Pesquisadores norte-americanos querem diminuir a idade mínima para fazer a mamografia de rastreamento, exame de rotina para mulheres sem sintomas de câncer de mama. Nesta semana, a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos sugeriu que pacientes com risco médio para a doença devem começar a fazer mamografias regulares a partir dos 40 anos, e não mais dos 50.

📊 Contexto: A revisão nas recomendações veio após um aumento no número de diagnósticos de câncer de mama em mulheres mais jovens – um cenário que não é exclusivo dos Estados Unidos.

Os casos de câncer de mama no Brasil também cresceram nos últimos anos, se alastrando por todas as faixas etárias, incluindo as mais jovens. Mais de 73,6 mil casos novos da doença podem ser diagnosticados neste ano, segundo estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca).

No Brasil, as diretrizes do Ministério da Saúde indicam a realização da mamografia em duas situações: para rastrear ou para diagnosticar (ou não) o câncer de mama.
👉 1 – A mamografia de rastreamento é voltada para mulheres de 50 a 69 anos, com um intervalo de até dois anos entre um exame e outro. É recomendado para pacientes assintomáticas que, nessa faixa etária, fazem o exame para identificar possíveis lesões na mama que possam ser um câncer.

📝 Segundo o Inca, a maior parte dos casos de câncer de mama ocorre a partir dos 50 anos. As evidências científicas mostram que o rastreamento nessa faixa etária pode reduzir mortes.

👉 2 – A mamografia de diagnóstico é voltada para mulheres com sinais de câncer de mama, como caroços endurecidos, fixos e sem dor, ou mudança no mamilo. Nesse caso, pode ser feita em qualquer faixa etária com indicação médica e também em homens com sintomas da doença.

🧬 Quem tem histórico de câncer de mama ou de ovário na família também podem fazer mamografia em qualquer idade, com ou sem sintomas. A recomendação é de que pacientes nessas condições conversem com o médico para avaliar os riscos e a conduta a ser seguida.

Entidades médicas brasileiras divergem da orientação nacional e tentam há anos reduzir a idade mínima para a mamografia de rastreio, conduzindo a mesma discussão pautada nos Estados Unidos.

🎗️ Mulheres sem sintomas de câncer de mama devem fazer mamografia de rotina a partir dos 40 anos, uma vez ao ano, segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR).

Os dados mostram que 25% das mulheres com câncer de mama no Brasil desenvolvem a doença entre 40 e 50 anos. Por isso, existe essa divergência em termos de idade para o início do rastreamento mamográfico.
— Rosemar Rahal, médica mastologista da diretoria da SBM

O que diz o governo

Segundo o Inca, a recomendação do exame rotineiro para a faixa etária de 50 a 69 anos é baseada em estudos clínicos que acompanharam mulheres ao longo dos anos e que mostraram que não há benefícios em antecipar a mamografia de rotina.

🔄 Uma mudança nessa orientação só seria viável se novos estudos, feitos em vida real e não somente com dados teóricos, mostrarem que a eficácia de fazer mamografia a partir dos 40 anos.

“No Brasil, não há estudos clínicos desta forma, mas há em outras partes do mundo. Nós acompanhamos as evidências, avaliamos a qualidade dos estudos e, com base nisso, fazemos as recomendações”, disse ao g1 Arn Migowski, médico sanitarista e epidemiologista, chefe da divisão de detecção precoce e apoio à organização de rede do Inca.

Essa é apenas uma recomendação ministerial. Ou seja: não é proibido fazer mamografia em mulheres abaixo dos 50 anos que não tenham sintomas de câncer de mama.

“É permitido, o SUS paga. É bom para a mulher? A gente acredita que não. Pelas melhores evidências disponíveis atualmente, a gente acredita que não seja bom fazer”, explicou Migowski.

Em 2021, foram realizadas 3.497.439 mamografias em mulheres no SUS. A maioria – mais de 3,1 milhões – foram mamografias de rastreamento. Dessas, 2,05 milhões foram feitas em mulheres entre 50 e 69 anos (público-alvo) e 862,7 mil na faixa etária de 40 a 49 anos.

O que é a mamografia?

É o raio X das mamas. Apesar de causar desconforto temporário (e, em alguns casos, doer), pois comprime as mamas em um aparelho chamado mamógrafo, o exame é essencial para detectar alterações, como nódulos ainda não palpáveis que podem indicar o início de um câncer de mama.

A confirmação da doença é feita com uma biópsia. O câncer de mama tem tratamento, que pode ser menos agressivo e mais efetivo se detectado de forma precoce.

👩 O risco de desenvolver a doença aumenta com a idade, principalmente dos 50 anos para cima. Por isso, a estratégia do SUS é voltada para reforçar a realização da mamografia a partir dessa idade, já que a cobertura brasileira do exame de rastreio está abaixo dos 70%, porcentagem recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

👨 Homens também podem ter câncer de mama, mas o grupo representa apenas 1% de todos os casos. Em 2021, foram feitas 7.281 mamografias em homens para fins diagnósticos no SUS.

Qual a idade mínima para fazer a mamografia de rotina?

A orientação do Ministério da Saúde e do Inca é para que mulheres de 50 a 69 anos que não possuem sinais ou sintomas de câncer comecem a fazer a mamografia a cada dois anos. O objetivo é rastrear possíveis alterações nas mamas que são imperceptíveis para a paciente, mas não escapam do exame.

❌ De acordo com o Inca, antes dos 50 anos, as mamas são mais densas e com menos gordura, o que limita o exame e pode gerar resultados incorretos. Já na faixa etária acima dos 70 anos, o risco da mamografia revelar um tipo de câncer de mama que não causaria danos à mulher é maior.

✅ O benefício de antecipar a idade mínima para 40 anos é a possibilidade de encontrar um câncer de mama no início e passar por um tratamento menos agressivo e com maior chance de cura.

Para a mastologista Rosemar Rahal, o benefício de se fazer a mamografia de rotina mais cedo e de forma frequente é maior que o risco.

Se eu considerar que 25% das pacientes tiveram câncer de mama entre 40 e 50 anos, a partir de 50 anos eu vou ter um número maior de diagnósticos. Provavelmente, o que o Ministério da Saúde faz é focar nessa população que vai ter uma frequência maior da doença. Entretanto, 25% da população que teve câncer de mama e está entre 40 e 50 anos fica negligenciada.
— Rosemar Rahal, mastologista e diretora da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM)

Já o Inca considera o contrário: em mulheres fora da faixa entre 50 e 69 anos, as mamografias de rotina provavelmente não trarão benefícios – e os riscos serão ainda maiores.

🚨 Um dos principais pontos levantados pelo órgão é o alarme falso: o resultado pode dar falso-positivo – e deixar a paciente ansiosa e estressada – ou falso-negativo, dando uma errônea sensação de segurança à mulher.

O instituto ainda afirma que o exame feito em mulheres mais jovens pode mostrar lesões na mama que não vão evoluir para um câncer, gerando sobrediagnóstico e o sobretratamento.

“O que acontece hoje é que não conseguimos saber qual lesão, uma vez diagnosticada, vai ou não evoluir para um câncer de mama. Por isso, nós consideramos que a mamografia traz muito mais benefícios do que riscos”, rebateu a médica Rosemar Rahal.

Mulheres que queiram fazer a mamografia, mesmo fora do público-alvo e sem sinais de câncer, devem procurar ajuda de um médico para tirar as dúvidas e tomar uma decisão compartilhada.

“A mulher procura o serviço de saúde e, com o médico, compartilha essa decisão de fazer ou não a mamografia. Uma decisão consciente e compartilhada, não há problema nenhum [em fazer a mamografia]. É um direito da mulher”, disse o médico do Inca Arn Migowski, afirmando que não há comprovação de que antecipar a mamografia possa salvar vidas.

Para além da mamografia, a mulher deve estar atenta às modificações do corpo, segundo Migowski. E, em caso de qualquer mudança, buscar os serviços de saúde.

“Não é só aquele método-padrão de autoexame. É se questionar: ‘como a minha mama é normalmente?’. Aí ela pode apalpar a mama e observá-la em situações cotidianas, como na hora de tomar banho. Isso é uma autoconscientização sobre a mama. Ao se conhecer, ela saberá o que é um sinal de alerta”, disse.

⬇️ No final desta reportagem, você confere os principais sinais de câncer de mama e outras informações sobre a doença.

Para a médica Rosemar Rahal, a questão envolvendo a mamografia no Brasil também passa pela gestão da saúde. Segundo ela, é necessário que a paciente tenha acesso a mamografias de qualidade, a informações sobre a importância do exame e realização da biópsia, em caso de detecção de lesão.

“Isso é um grande gargalo hoje no Brasil: confirmar se aquilo é ou não é câncer”, afirmou a mastologista. “Nosso problema não é falta de mamógrafo. A questão é a paciente ter acesso em vários aspectos, como a uma indicação médica, principalmente entre aquelas que evitam a mamografia por medo do próprio exame ou do diagnóstico”, disse Rosemar Rahal.

↪️ O Brasil contava com 6.642 mamógrafos em maio de 2022 – 6.377 em uso. O número de estabelecimentos com mamógrafo no SUS era de 2.932. Esse é o dado mais recente.

↪️ Já a qualidade da mamografia é voltada para eficiência do diagnóstico. Um programa do governo federal monitora o funcionamento dos mamógrafos no SUS e a interpretação dos exames, além da conduta de profissionais de saúde. O objetivo é que a sensibilidade dos exames fique entre 85% a 90%, o que permite a detecção até de tumores pequenos e de baixa densidade.

Entre 2017 e agosto de 2021, o Programa de Qualidade em Mamografia do Inca avaliou 1.112 processos na primeira fase – desses, 85,7% foram aprovados.

Câncer de mama é mais agressivo em jovens?

Depende, de acordo com a médica Rosemar Rahal. O câncer de mama pode ser mais agressivo em qualquer faixa etária. Mas há estudos que mostram que tumores que crescem de forma rápida são mais comuns em pacientes abaixo dos 50 anos que “herdam” a doença.

O que nos chama atenção é que as pacientes que têm alguma mutação, ou seja, uma pré-disposição familiar para o desenvolvimento do câncer de mama, podem ter o que a gente chama de tumor de intervalo, que cresce de forma rápida e é mais agressivo. Esses tipos de tumores tendem a aparecer com maior frequência nas pacientes abaixo das 50 anos.
— Rosemar Rahal, mastologista

⚠️ Segundo o médico Arn Migowski, a mulher deve ficar atenta ao seguinte histórico de casos na família:

  • Caso de câncer de mama em homem;
  • Caso de câncer de ovário em mulher;
  • Caso de câncer de mama na mãe, filha ou irmã (principalmente em mulheres jovens).

Nesses casos, a mulher pode fazer a mamografia em qualquer idade, com ou sem sintomas. Mas a decisão deve ser tomada de forma conjunta com o médico, que pode direcionar o melhor caminho.
Entre 10% a 15% dos casos da doença estão relacionados a fatores como pré-disposição familiar, como alterações genéticas herdadas da família, especialmente nos genes BRCA1 e BRCA2.

🎗️ Saiba mais sobre o câncer de mama 🎗️

O que é o câncer de mama? É uma doença resultante da multiplicação de células anormais da mama, que forma um tumor com potencial de invadir outros órgãos. A maioria dos casos tem boa resposta ao tratamento, principalmente quando diagnosticado e tratado no início.

O câncer de mama é comum no Brasil? Sim. É o tipo mais comum, depois do câncer de pele, e também é o que causa mais mortes por câncer em mulheres. Em 2020, foram 17.825 óbitos.
Só as mulheres têm câncer de mama? Não. Homens também podem ter câncer de mama, mas isso é raro (apenas 1% dos casos).

O que causa o câncer de mama? Não há uma causa única. Diversos fatores de risco estão relacionados ao câncer de mama. Entre eles, comportamentais (obesidade e sedentarismo), história reprodutiva (uso de contraceptivos orais por tempo prolongado) e hereditários (alterações genéticas/histórico familiar de câncer de mama e ovário). A presença de um ou mais desses fatores de risco não significa que a mulher terá, necessariamente, a doença.

Quais são os sinais e sintomas do câncer de mama? A presença de um caroço (nódulo) endurecido, fixo e geralmente indolor é a principal manifestação da doença, estando presente em mais de 90% dos casos. Outros sintomas são: alterações no mamilo, pequenos nódulos na região embaixo dos braços (axilas) ou no pescoço, saída espontânea de líquido de um dos mamilos ou pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja.

Qualquer alteração na mama pode ser câncer? Nem sempre. Os sintomas precisam ser investigados o quanto antes, mas podem não ser câncer de mama. Qualquer caroço na mama em mulheres com mais de 50 anos deve ser investigado. Em mulheres mais jovens, qualquer caroço deve ser investigado se persistir por mais de um ciclo menstrual.

Como as mulheres podem perceber os sinais e sintomas da doença? Todas as mulheres, independentemente da idade, podem conhecer seu corpo para saber o que é e o que não é normal em suas mamas. A maior parte dos cânceres de mama é descoberta pelas próprias mulheres. O Inca recomenda que a mulher olhe, apalpe e sinta suas mamas no dia a dia para reconhecer suas variações naturais e identificar as alterações suspeitas.

É possível reduzir o risco de câncer de mama? Sim. Manter o peso corporal adequado, praticar atividade física e evitar o consumo de bebidas alcoólicas ajudam a reduzir o risco de câncer de mama. A amamentação também é considerada um fator protetor.

Como ocorre o diagnóstico? Alterações suspeitas na mama podem ser avaliadas pelo exame clínico das mamas, que é a observação e palpação das mamas pelo médico, e pela radiografia das mamas. Caso a mamografia identifique algo suspeito, é feita uma biópsia para confirmação ou não da doença.

Como é o tratamento? Depende do estágio do tumor, o tratamento pode ser local, com cirurgia e radioterapia, além da reconstrução mamária, ou o tratamento sistêmico, com quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica.

Fonte: Inca.

Texto extraido do Portal G1 (https://g1.globo.com/saude/noticia/2023/05/20/mamografia-entidades-e-ministerio-divergem-sobre-idade-minima-para-exame-de-rotina-veja-como-funciona.ghtml)


Anticoncepcional causa câncer de mama? Mito ou verdade?

Para a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), dados de publicações científicas devem ser cuidadosamente avaliados, assim como o histórico pessoal, os hábitos e os fatores de risco de cada mulher que faz uso de contraceptivos hormonais

Um estudo recente, publicado na revista PLOS Medicine, reacende as discussões sobre câncer de mama e uso de anticoncepcionais hormonais. No artigo, pesquisadores da Universidade de Oxford chegaram à conclusão que os riscos de desenvolver a doença, associados às pílulas com estrógeno e progesterona, ou somente com progesterona, são muito pequenos. “Uma pesquisa mais ampla, realizada anteriormente com um número muito superior de mulheres, compartilha a mesma conclusão”, observa o mastologista Guilherme Novita, diretor da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). Mesmo não trazendo novidades, o médico alerta que o estudo de Oxford chama a atenção para os índices apresentados pelos pesquisadores. “São números que vêm sendo amplamente divulgados, mas requerem uma análise aprofundada, justamente para não gerar desinformação e preocupações desnecessárias entre as mulheres que utilizam contraceptivos hormonais, que trazem mais benefícios do que prejuízos”, afirma.

O artigo publicado neste mês pela PLOS Medicine , do qual participaram cerca de 10 mil mulheres com idades inferiores a 50 anos, indica que as chances de desenvolvimento de câncer de mama pelo uso de anticoncepcionais hormonais aumentam em até 30%. Para o mastologista Guilherme Novita, da SBM, a grande discussão não diz respeito apenas aos números apresentados pelos pesquisadores de Oxford, mas à maneira como o estudo foi conduzido.

“Este estudo foi realizado a partir de um modelo que chamamos caso-controle”, diz. O médico explica que neste modelo os pesquisadores selecionam um número de pacientes com câncer e outro grupo que não tem a doença e perguntam a cada uma das mulheres se tomaram pílula no passado. “Se de dez pessoas com câncer de mama, nove tomaram anticoncepcional, e de dez mulheres sem câncer, só uma usou a pílula, o entendimento é de que o anticoncepcional está muito relacionado ao câncer de mama.”

O estudo caso-controle, segundo Novita, é bastante frágil e, em geral, não considera condições importantes, como hábitos, realidades socioeconômicas e o ambiente em que vivem os grupos pesquisados. “O nível de controle neste estudo é nível D de evidência, com muitos fatores que podem interferir no resultado”, ressalta.

A título de comparação, o mastologista lembra o estudo sobre a Covid-19 em Serrana, no interior paulista, realizado com 50% da população, recebendo vacina, e a outra metade, placebo. “Este estudo teve nível A de evidência, e a partir da porcentagem de cada grupo infectado pelo coronavírus, concluiu-se que a vacina funcionava”, sintetiza.

Outras constatações

O mastologista Guilherme Novita ressalta que o estudo recente de Oxford, indicando que os riscos de desenvolver câncer de mama pelo uso de anticoncepcionais hormonais são muito pequenos, entra para o rol das pesquisas que convergem para a mesma conclusão.

Em 2017, lembra o médico, um estudo publicado na New England Journal of Medicine, uma das mais prestigiadas publicações científicas do mundo, resultou do acompanhamento de 1,8 milhão de mulheres na Dinarmarca, na faixa etária entre 15 e 49 anos, por um período médio de dez anos. “As mulheres foram avaliadas prospectivamente, com uma população homogênea, confrontando quem usou anticoncepcionais e quem não usou”, destaca.

Nos resultados, quando comparadas com as que nunca usaram contraceptivos hormonais, as mulheres que faziam uso de anticoncepcionais tiveram um risco relativo de ter câncer de mama 9% superior a partir de um ano e 38% maior a partir de uma década de uso. Em síntese, o estudo demonstrou que para todas as participantes, a chance de ter câncer de mama até os 50 anos era de 2%. Para quem usou o medicamento por um ano, 2,2%, e para quem fez uso por mais de uma década, 2,76%.

“Tanto na pesquisa recente de Oxford quanto no estudo realizado em 2017, a constatação é de que os anticoncepcionais aumentam um pouquinho o risco de câncer de mama”, observa Novita. “Mas há outros fatores, além da pílula, que contribuem significativamente para ampliar as estatísticas da doença.” O médico destaca, por exemplo, maus hábitos alimentares, excesso de peso, sedentarismo, consumo diário de álcool em quantidades moderadas, uso de anabolizantes androgênios por mulheres, falta de gestação ou gravidez tardia.

“Em uma análise realista, o contraceptivo hormonal é muito benéfico, pois diminui a gravidez indesejada e as complicações de gestação em mulheres com menos de 25 anos no Brasil. A diminuição do risco de câncer de ovário também está relacionada ao uso de anticoncepcional”, enumera. O mastologista avalia, no entanto, que não se deve utilizar a pílula de forma indiscriminada. “A recomendação médica é sempre necessária”, diz.

Para pacientes com menos de 40 anos, salvo as que tenham risco muito elevado por histórico familiar ou por mutação genética, não há contraindicação para o uso de contraceptivos hormonais. “Evidentemente, como controle, a mamografia deve ser realizada todos os anos”, indica. Para mulheres com mais de 45 anos, quando o risco de câncer passa a ser mais significativo, a recomendação, segundo Novita, é para que se evite o uso sempre que possível, substituindo-os por anticoncepcionais não hormonais, como preservativos e DIU de cobre.

“Quando se analisam as estatísticas sobre o câncer de mama, os benefícios do uso dos anticoncepcionais hormonais entre a população mais jovem são infinitamente maiores que os prejuízos”, conclui Guilherme Novita.


Pesquisa avalia o conhecimento das mulheres brasileiras sobre câncer de mama

Estudo Datafolha/Gilead Oncology indica que 69% das entrevistadas se consideram bem informadas; 99% reconhecem a importância do Outubro Rosa como campanha para a prevenção da doença

Pesquisa realizada para avaliar o nível de conhecimento sobre o câncer de mama no Brasil revela que 69% das mulheres se consideram bem informadas a respeito da doença. No estudo feito pelo instituto Datafolha, a pedido da Gilead Oncology, 61% dizem se informar sobre o assunto. Para 26%, os esclarecimentos estão na internet; para 25%, em consultas médicas. O Outubro Rosa, conhecido por 98% das entrevistadas, é considerado por quase a totalidade das participantes uma “campanha muito importante para conscientizar as mulheres sobre os perigos do câncer de mama”, o segundo tipo mais comum nas mulheres e a principal causa de morte entre elas.

“Do ponto de vista qualitativo, a pesquisa é importante para sabermos como as mulheres buscam informações sobre o câncer de mama” afirma Bruno Laporte, mastologista titular da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). Para o especialista, também é necessário para entender o quanto o Outubro Rosa, as campanhas realizadas pela SBM e por todos os mastologistas no Brasil “são fundamentais na mudança de conceito, na geração de conhecimento e na percepção que essas mulheres têm em relação ao câncer de mama, à prevenção e saúde”.

O estudo Datafolha/Gilead Oncology ouviu 1.007 mulheres, com média de idade de 43 anos, em capitais e regiões metropolitanas (44%) e no Interior (56%). O SUS (Sistema Único de Saúde) é o acesso de saúde para 75% das entrevistadas, sendo 91% das classes D/E e 87% com ensino fundamental. Os planos de saúde compreendem o acesso de 20% e o particular, de 18%.

Se 69% se consideram bem informadas sobre o câncer de mama, de acordo com a pesquisa, o grupo “Mais ou menos informada” representa 31% das respondentes e é formado por mulheres entre 25 e 29 anos (45%), da classe D/E (42%), negras (35%), com ensino fundamental (35%) e usuárias exclusivas do SUS (36%). “Este grupo, em especial, evidencia a necessidade e a importância de políticas públicas e estratégias específicas de informação para o conhecimento e o rastreamento da doença”, ressalta Laporte.

As mulheres que buscam informações sobre a doença são 61%, segundo o levantamento. A internet aparece como a principal fonte para sanar dúvidas (26%), seguida da consulta médica (25%). “É importante notarmos no estudo que ‘matérias, divulgação e propaganda’, ‘redes sociais’, ‘palestras’ e ‘campanhas do Outubro Rosa’ representam quase um terço das informações obtidas e, portanto, são canais a serem mais explorados com esclarecimentos sempre precisos”, pontua o mastologista da SBM.

Sobre o Outubro Rosa, reconhecido por 99% das entrevistadas pela importância da conscientização sobre os perigos do câncer de mama, há dados relevantes, segundo Laporte. “A campanha motivou 70% das mulheres a procurarem um médico, e 40% foram estimuladas a fazer mamografia.”

Para 97% das respondentes, o diagnóstico da doença em fases iniciais aumenta as chances de cura. O autoexame é tido como “fundamental” entre 98% das participantes do levantamento para a prevenção contra o câncer de mama. “O autoexame mensal tem limitações e não diminui a mortalidade quando empregado isoladamente”, diz o especialista. “O conceito que propõe uma abordagem mais moderna, leve e efetiva que o autoexame mensal é o ‘conhecimento do próprio corpo’, com atenção aos sinais e alterações do organismo”, completa. Para o mastologista, o novo conceito deve estar associado à importância da mamografia como método de rastreamento da doença, “sendo o único exame com diminuição de taxa de mortalidade em mulheres de risco habitual”.

Entre as mulheres que fazem a mamografia, 49% têm o exame como rotina, sendo 60% das classes A/B e 37% das classes D/E. Duas em cada dez entrevistadas (21%) realizaram por solicitação médica, e 16% porque “sentiram caroço ou nódulo” nas mamas.

Ser jovem (42%) e não ter o pedido do médico (30%) são os principais motivos para as mulheres ouvidas nunca terem feito uma mamografia. “A pesquisa não estratifica a idade dessas mulheres, mas é importante ressaltar que 15% não realizaram o exame porque estavam assintomáticas; 10% nunca pensaram em realizá-lo”, observa o médico. Problema de acesso para fazer a mamografia foi relatado por 6%. “Isso nos faz pensar, por todos os motivos apresentados no estudo, que a dificuldade para a realização do exame pelo SUS pode não ser a principal causa da baixa taxa de cobertura de rastreamento no País”, destaca.

Nove entre dez participantes da pesquisa não souberam apontar algum subtipo de câncer de mama ou estágio da doença. No entanto, no consenso geral, 62% citaram a quimioterapia e 43% a radioterapia como tratamentos. Somente 21% citaram a cirurgia, sendo 20% especificamente a mastectomia. “É muito importante informar que a mastectomia com a retirada total da mama é indicação a uma pequena parcela de pacientes”, afirma. A cirurgia conservadora, indica o especialista, é uma opção e uma estratégia a ser considerada, visando a segurança, a manutenção da feminilidade e a autoimagem da mulher.

“Tão importante quanto apresentar pesquisas relevantes, como a realizada pelo Datafolha/Gilead Oncology, é ouvir e envolver entidades e associações como a Sociedade Brasileira de Mastologia para que o entendimento da população brasileira sobre o rastreamento, a prevenção, o diagnóstico e as alternativas de tratamento do câncer de mama sejam sempre ampliados”, conclui Bruno Laporte.


Recomendação sobre uso de androgênios e câncer de mama

A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) vê com grande preocupação o uso crescente de testosterona e seus derivados sintéticos pela população feminina no País.

A utilização de androgênios associada à incidência de câncer de mama, assim como à evolução da doença, é desconhecida. Porém, conceitos teóricos nos levam a ponderar sobre o possível aumento de risco e piora da doença.

As informações, disseminadas especialmente em redes sociais, sobre a possível segurança e os efeitos terapêuticos destes hormônios são baseadas em conceitos falsos ou análises incompletas do assunto, podendo culminar em danos irreparáveis à saúde.

De acordo com estimativa da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, 1,6% das mulheres recebem recomendações para uso de hormônios masculinos. As indicações são múltiplas, incluindo benefícios estéticos.

A reposição de testosterona é claramente recomendada em diagnósticos de hipogonadismo masculino e nas terapias para redesignação sexual em homens transgêneros. O uso em mulheres para fins estéticos é controverso e contraindicado por agências reguladoras de diversos países, inclusive pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

A SBM ressalta que não existem estudos com alto rigor científico (ensaios clínicos randomizados) que avaliem de maneira precisa o risco de câncer de mama relacionado ao uso de hormônios masculinos.

No entanto, os androgênios têm potencial para aumentar o risco de câncer de mama através de dois mecanismos: (i) estímulo direto de receptores androgênicos, presentes em alguns tipos de tumor mamário; (ii) transformação do androgênio em hormônio feminino (estrógeno), através da conversão periférica mediada pela enzima aromatase e estímulo direto a receptores estrogênicos, presentes na maioria dos casos de câncer de mama.

Mesmo diante da limitação de pesquisas, alguns estudos já demonstram maior incidência de câncer de mama em mulheres com níveis androgênicos séricos elevados ou pessoas que receberam terapia hormonal androgênica para redesignação sexual.

Sendo assim, a Sociedade Brasileira de Mastologia conclui:

  1. Diante da falta de estudos que atestem segurança para o uso de hormônios masculinos, e tomando-se por base potenciais riscos teóricos, recomenda-se que mulheres com câncer de mama não utilizem androgênios exógenos.
  2. A princípio, a mesma conduta deve ser sugerida a mulheres com alto risco para a doença.
  3. O uso desta medicação em mulheres com baixo risco para câncer de mama, ou seja, a população em geral, pode aumentar o risco de desenvolvimento da doença. A utilização deve se restringir a situações necessárias, sob rigorosa supervisão médica e após ampla discussão com a paciente.
  4. Informações sobre a ausência de riscos ou possível proteção mamária através do uso de androgênios, da forma como vêm sendo apregoadas na mídia e em redes sociais, são incorretas, e com base nos dados científicos atuais, não devem ser repassadas à população.

Referências Bibliográficas
Novita G, Mateus EF. Uso de androgênios e câncer de mama. In: Novita G, Bagnoli F, Mattar A, Mori LJ, Mateus EF; Doenças Mamárias para Ginecologistas, 1ª edição; Rio de Janeiro, Ed. Atheneu, 2023; ISBN 978-65-5586-771-8.
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Nota técnica sobre a chamada “biópsia líquida”

Recentemente foi veiculado na mídia a possibilidade de se utilizar a chamada “biópsia líquida” para rastreamento de câncer de mama.

O exame popularmente conhecido como “biópsia líquida” é uma técnica que visa detectar material tumoral através da análise de amostra de sangue em que se procura DNA tumoral circulante de forma minimamente invasiva. Este exame é extremamente complexo e ainda não validado para rastreamento do câncer de mama, além de ser um exame não coberto pelo sistema de saúde, sendo ele privado ou público.

Sabemos ainda que o principal exame de rastreamento do câncer de mama é a mamografia, já avaliada amplamente em grandes estudos populacionais com comprovada redução de mortalidade em cerca de 30% para o grupo em que o exame foi feito de maneira adequada e rotineira.

Em relação ao uso da “biópsia líquida” para decisão tanto do tipo quanto do número de ciclos de quimioterapia ainda não há dados científicos disponíveis que possam de maneira segura embasar esta afirmação.

Portanto de acordo com a literatura atual, a SBM não recomenda o uso de “biópsia líquida” tanto como rastreamento populacional para câncer de mama, quanto para decisão terapêutica fora de protocolos clínicos em que o paciente é informado dos potenciais riscos e benefícios e aceita participar assinando um termo de consentimento livre e esclarecido.

Sociedade Brasileira de Mastologia